Cura


Curar tabaco é uma arte. Consiste em promover importantes transformações físico-químicas nas folhas colhidas nas lavouras, seguido de uma lenta e controlada extração da água delas. Todo esse processo ocorre dentro de unidades de cura, também chamadas de estufas. O planejamento da cura inicia com o transplante. A quantidade de plantas ou área a ser cultivada é limitada pela capacidade da(s) unidade(s) de cura de cada produtor. O agricultor sabe que, para determinada estufa, pode plantar um determinado número de plantas, ou seja, 30.000 pés para uma estufa de 450 varas. Como uma vara ou bastão comporta em média 130 folhas, pode produzir em torno de 59.000 folhas que arredondando, podem ser colhidas duas folhas por vez de cada planta.

Obviamente há diversas técnicas de colheita que mudaram esse conceito tradicional. Atualmente, se fala em colheita por talhão, dentre outras, que não alteram a capacidade de cura de cada estufa. Para as cultivares de maturação precoce, o número de plantas por estufa deve ser calculado considerando quatro apanhadas por planta durante a safra. Nesse caso, o número de plantas por unidade de cura deverá ser ajustado para essa condição.

Todo esse conceito é aplicado às estufas convencionais. Algumas adaptações, como os sistemas de ar forçado, podem aumentar a capacidade de extração de água e, portanto, de carga de cada estufa.

Outro aspecto a ser observado é a característica de cada estufa. Para favorecer uma boa cura, a estufa deve ter um sistema de aquecimento e de ventilação muito eficiente, tanto de entrada de ar (admissão) quanto de saída de ar (exaustão).

Normalmente, em estufas convencionais, os ventiladores de entrada, chamados de suspiros, têm área um terço menor do que a dos ventiladores de saída. Isso porque o ar que é admitido na estufa é mais denso e de temperatura inferior à temperatura interna da estufa. Quando aquece, esse ar se expande, aumenta seu volume e procura a sua saída para cima. Ao aquecer o ar sobe. Ao subir, encontra uma camada de umidade, que é a água liberada pelas folhas. A massa de ar perde temperatura em contato com a umidade, que carrega para fora da estufa. Uma vez iniciado o processo de exaustão da estufa, o ar sobe dentro da estufa, carrega a umidade para cima e para fora da estufa. O ar admitido pelos ventiladores inferiores é aquecido e sobe entre as folhas, independentemente de perder temperatura em contato com a umidade que encontra pelo caminho. Esse é o princípio da cura do tabaco em estufas convencionais.

Além dos ventiladores, as estufas não devem ter saídas de ar acima da camada do tabaco e ou aberturas e frestas laterais nas paredes ou na base do telhado. Para ver se a estufa está bem vedada, basta entrar nela antes de carregá-la com o tabaco. Deve estar escura e sem entrada de luz. Onde entra luz, entrará ar. Recomenda-se vedar os furos das paredes com barro ou massa de cimento. Para tornar a estufa mais eficiente quanto à cura e economia de lenha, sugere-se fazer o salpique externo na estufa para evitar que o vento e a chuva resfriem as paredes.
O sistema de encanamento também deve ser bem instalado. Canos limpos de picumã e chaminés limpas contribuem para o bom funcionamento das estufas.

Para maximizar os resultados da cura do tabaco, devemos começar com uma boa lavoura, seguida de uma boa colheita, ou seja, colheita uniforme de folhas maduras e uma estufa em boas condições.
Mesmo quando o tabaco colhido não apresenta as melhores condições, há sempre a possibilidade de minimizar os prejuízos com alguns cuidados adicionais na cura, respeitando o período de horas de cada fase de cura, pois a redução no tempo de cura fatalmente resultará em prejuízo na qualidade.

As estufas devem ter termômetros de bulbo úmido e seco. A diferença de temperatura entre os dois bulbos indica a umidade relativa dentro da estufa. Quando está muito baixa, o tabaco desidrata e seca antes do tempo. Quando está muito alta, devemos manter a temperatura até estabilizar a umidade de acordo com a tabela de cura. Todas as empresas distribuem tabelas de cura com as relações de temperaturas ideais para uma boa cura. Não observar a relação entre temperatura e umidade, conforme a tabela de cura, leva a perdas irreparáveis de qualidade.

A cura do tabaco obrigatoriamente deve passar por todas as fases, desde a amarelação até a secagem do talo, respeitando o período de horas para cada fase para maximizar a qualidade do tabaco, conforme descrito a seguir.
 
FASES DA CURA DO TABACO

1 – Amarelamento:

Esta fase também é chamada de finalização da maturação do tabaco em ambiente controlado, pois é quando as principais e mais desejáveis transformações, físico-químicas ocorrem. Nessa etapa as células das folhas continuam vivas.

A cura do tabaco normalmente inicia com a temperatura ambiente. Quando esta estiver abaixo de 90°F deve-se fazer o aquecimento da estufa para atingi-la. Essa temperatura deverá ser mantida por aproximadamente 12 horas e a seguir elevada gradualmente, em média 2°F por hora, até chegar a 100°F.

Mantemos a temperatura em 100°F, sempre observando a relação do bulbo seco e bulbo úmido, conforme a tabela de cura, até que uma terça parte de cada uma das folhas, dos dois primeiros estaleiros, estejam amarelas. Nessa ocasião, permanecem nervuras esverdeadas no centro das folhas.
* O oxigênio ao penetrar nas folhas, através dos estômatos, durante a “amarelação” acelera a expulsão de água e dióxido de carbono, favorecendo a conversão em amido e demais atividades enzimáticas dessa fase.

Essa fase normalmente leva de 48 a 60 horas.

2 – Murchamento:

Neste momento, aumentamos a temperatura, lentamente, em torno de 1°F por hora, até atingir 105°F abrindo levemente os ventiladores inferiores, para permitir a entrada de ar que vai acelerar o processo de "amarelamento", além de promover o murchamento das folhas.

Mantemos 105°F, até que as folhas dos dois primeiros estaleiros estejam completamente amarelas e murchas. A partir desse momento podemos aumentar a temperatura até 110°F, até que a ponta das folhas comece a virar, não esquecendo de manusear adequadamente a ventilação para manter o equilíbrio da temperatura e umidade de acordo com a tabela de cura. Nesse estágio o tabaco perdeu aproximadamente 20 a 30% da água.
* A partir de 108°F e havendo alta umidade nas folhas, é desencadeado o processo de oxidação de polifenóis, com pontos escuros chamados de “guínea” ou teia de aranha.

* Uma regra básica é abrir os ventiladores superiores, algumas horas depois de abrir os inferiores. Devemos permitir que a massa de ar aqueça dentro da estufa nas primeiras horas. Outra razão é prevenirmos a entrada de ar frio excessivo para dentro da estufa que ocorre sempre que a temperatura externa está muito abaixo da interna.

Essa fase leva em média de 18 a 24 horas.

3 – Fixação da cor e secagem da lâmina:

Aumentamos a temperatura gradualmente, de 2°F por hora até atingir 120°F, sempre observando a relação bulbo seco e bulbo úmido conforme tabela de cura, adequando a abertura da ventilação inferior e superior. Essa temperatura deve permanecer até que o tabaco dos estaleiros superiores esteja completamente amarelo e murcho.

*Normalmente há uma diferença de 10-15°F entre o termômetro e a parte superior da estufa, dependendo da altura da estufa. Por isso, falamos em manter a temperatura em 120°F no termômetro, que está colocado no primeiro estaleiro para que não ultrapasse 105°F nos estaleiros superiores, onde o tabaco ainda está com bastante umidade e esverdeado.

Se o tabaco dos estaleiros superiores estiver completamente amarelo e murcho, podemos aumentar a temperatura gradualmente, em média de 2°F por hora até atingir 135°F.

Essa temperatura deve ser mantida até que as folhas dos dois primeiros estaleiros estejam com as lâminas secas e as folhas dos estaleiros superiores completamente murchas.

Podemos elevar a temperatura aos poucos, na razão de 2°F por hora até atingir 150°F no termômetro, a qual deve ser mantida até que as lâminas do tabaco dos estaleiros de cima estejam secas.

* Quando as folhas estiverem completamente amarelas, mas com excesso de água, ao ultrapassarmos a temperatura de 135°, há o “escaldamento” ou formação de tabacos “barriga de sapo”, subtipo K. Por isso, é muito importante observarmos os limites de temperatura de 135°F para a fase mencionada antes de elevá-la até 150°F.

Essa fase leva em média 48 a 60 horas.

4- Secagem do talo:

Restando somente os talos para secar, continuamos elevando a temperatura até atingir 165°F.

Recomenda-se fechar os ventiladores inferiores e superiores quando restarem somente os talos para secar. Como há pouca umidade a extrair, as saídas naturais entre as telhas são suficientes para a exaustão lenta dessa umidade. Uma saída lenta é benéfica para economia de lenha e melhora a aparência do tabaco.

Essa fase leva em torno de 18 a 24 horas.

Resumo da média de tempo para curar uma estufada de tabaco:

  • 48 - 60 horas para “amarelação”;
  • 18 - 24 horas para murchamento;
  • 48 - 60 horas para a secagem da lâmina;
  • 24 horas para finalizar a secagem do talo.
     

* Em geral, todas as fases do processo de cura não podem ser feitas em menos de sete dias. A passagem entre as três primeiras fases se funde dentro da estufa. Enquanto estamos murchando as folhas nos estaleiros inferiores, terminamos a “amarelação” nos estaleiros superiores. Quando secamos a lâmina nos estaleiros inferiores continuamos com murchamento nos estaleiros superiores. O tabaco seco fatalmente revela como foi feita a cura, além de, é claro, como foi colhido o produto.

Considerações gerais sobre cura:

* Quando o tabaco não for colhido nas melhores condições, existe a possibilidade de minimizar os prejuízos com alguns cuidados adicionais. Respeitar o número de horas de cada fase da cura é fundamental, pois a redução no tempo de cura fatalmente resultará em prejuízo na qualidade.

* Se colocarmos um termômetro nos estaleiros superiores da estufa, veremos que há uma diferença acentuada de temperatura entre o primeiro estaleiro, onde normalmente é colocado o termômetro e a parte superior. Isso é conseqüência do resfriamento do ar ascendente que em sua trajetória encontra e carrega a umidade liberada pelas folhas do tabaco, em direção das aberturas superiores onde é expulso.

* Quando o tabaco suar é um indicativo de excesso de umidade dentro da estufa. Antes de aumentar a temperatura, devemos expulsar o excesso de umidade, abrindo todos os ventiladores (até mesmo, parte da porta) e mantendo temperatura.

* Quando a temperatura for elevada muito cedo, teremos tabacos de duas características: boa elasticidade, coloração na parte externa da lâmina e escurecida, sem elasticidade no centro. Essas folhas foram atingidas por temperaturas elevadas, enquanto tinham altas quantidades de água nesses locais.
* Nas tabelas de cura, há indicativos de avanços da temperatura em função do aspecto do tabaco e dos bulbos úmido e seco dos termômetros. Esses também indicam quando e quanto os ventiladores das estufas devem ser abertos. Tudo é uma questão de adequar a massa de tabaco à sua necessidade e velocidade de enxugamento para não perder qualidade. Cura muito rápida ou lenta, gera produtos com menor aceitabilidade. Há perda de qualidade.

* O oxigênio, ao penetrar nas folhas, acelera o processo de “amarelação”. Na fase de amarelação, além das transformações físico-químicas, visualizamos a redução da coloração verde (clorofila) e o aparecimento da coloração amarela (xantofila). Ambos os pigmentos estão presentes nas folhas por ocasião da colheita, só que a cor verde esconde a amarela. A clorofila está mais acentuada na lavoura por causa da fotossíntese.

Procedimentos adicionais quando o tabaco for colhido em condições adversas:
Tabaco colhido verde:

Não se recomenda colher tabaco verde, mas se esta medida for necessária para evitar perdas posteriores, alguns cuidados adicionais devem ser tomados. Nesse caso, a amarelação deverá ser feita mantendo a temperatura um pouco mais alta (103°F a 105°F), com pequena entrada de ar. Devemos ter o cuidado de não deixar que haja a fixação da cor verde. Sempre que as pontas das folhas enrolarem ainda verdes, devemos cortar a entrada de ar, para aumentar a umidade sem, contudo, permitir que a temperatura baixe.
O que normalmente ocorre com tabaco desse tipo é que a fase de amarelação leva mais horas, mas as fases posteriores seguem a cura normal.
 
Tabaco colhido úmido:

Muitas vezes não há a possibilidade de escolha: colher o tabaco molhado ou perder. Nessa condição é fundamental que as varas e a estufa não sejam sobrecarregadas. No início da “amarelação”, devemos proporcionar o máximo de entrada de ar até que o tabaco enxugue. A temperatura deverá ser mantida entre 90°F e máximo de 100°F. Quando o tabaco estiver enxuto e o termômetro indicar que a umidade normalizou, podemos reduzir a entrada de ar ao nível adequado, para manter a umidade conforme a tabela de cura.

No caso de excesso de chuvas, que mantém os tabacos túrgidos, é muito importante que se conserve a entrada de ar até que o tabaco dê sinais de murchamento.

Quando está chovendo bastante, os tabacos tendem a ser colhidos com manchas de fungos e até bactérias nas folhas. Por isso, devemos ter bastante cuidado para prevenir a proliferação dessas doenças nos tabacos dentro da estufa. Isso se consegue observando o murchamento das folhas, em todos os estaleiros, antes de aumentar a temperatura. Com 108°F, inicia-se a proliferação dos fungos na estufa. É lógico que, com pouca umidade, é mais difícil que causem estragos. Portanto, todo o cuidado é pouco para não ultrapassar as temperaturas críticas durante todo o processo de cura.

Tabaco colhido em época de seca:

Este é um caso mais simples. Basta fechar bem a estufa e adicionar umidade, mantendo a temperatura, esperando que o tabaco libere a umidade necessária para processar a cura. Mesmo tabacos colhidos em época seca, terão acima de 85% de umidade.

A partir do momento que a umidade estabilizar, prossegue-se a cura, observando o termômetro de bulbo seco e úmido.

São esses tabacos que demandam a mais rigorosa observação da tabela de cura e principalmente do termômetro de bulbo úmido que indica a umidade dentro da estufa. Caso a umidade esteja muito baixa, normal nos tabacos desidratados, muitas vezes teremos que curar toda a estufada com o mínimo de ventilação.

Tabaco colhido passado do ponto:

Tabacos passados do ponto de maturação na lavoura, normalmente agregam problemas de queimadura do sol, enfermidades e tecidos mortos antes de serem colhidos. Para curar esses tabacos, devemos ter o cuidado de promover a "amarelação" juntamente com o murchamento, sem, contudo, elevar a temperatura enquanto houver estrias verdes nas folhas. Inicia-se com a temperatura ambiente, por 6 horas, com os ventiladores fechados até aquecer a estufa, elevando gradualmente, na razão de 2°F por hora até atingir entre 103°F a 105°F, com leve entrada de ar.

Mesmo os tabacos colocados amarelos dentro da estufa, podem fixar a coloração verde nas nervuras quando for apressada a secagem da lâmina. Isso ocorre, porque as folhas dos tabacos colhidos passados do ponto readquirem a coloração esverdeada ao longo das nervuras secundárias tão logo estejam dentro da estufa.

Uma vez amarelo e murcho o tabaco, processamos a cura normalmente, sempre observando a umidade interna e com os cuidados de não acelerar a cura ultrapassando os pontos críticos da temperatura para cada fase da cura, que são 108°F, quando os tabacos estiverem amarelos e murchos nos primeiros estaleiros e 135°F, quando as lâminas das folhas estiverem completamente secas nos estaleiros inferiores.

 

 


 

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